Por João Batista Passos
“Pena de morte” é o que muitos defendem quando estoura uma onda de violência. Mas, as ondas de violência são o reflexo de problemas mais complexos e que requerem uma analise mais profunda. Vai além de prender ou matar “bandido”.
Neste texto, apresento algumas reflexões, que considero necessárias, para podermos analisar e tentar entender o que leva ao aumento da violência, causado por diversas omissões por parte do estado e da sociedade. A abordagem que faço é filosófica, não devendo ser confundida com análise cientifica.
Vivemos em uma sociedade capitalista, onde o objetivo é, por parte de quem detém o capital, a obtenção do lucro. Até ai, no molde capitalista, não tem nada de errado. O que precisa ser analisado, para o entendimento do tema, é:
- Como o individuo se ver neste sistema?
- Quais as suas expectativas de sobrevivência dentro do sistema?
- Qual o nível educacional do individuo?
- Como o sistema se comunica com o individuo?
- Como agem os agentes públicos e seu entendimento sobre o sistema?
Teorizando sobre como o individuo se ver no sistema, acredito que cada um, em sua maioria, é levado a acreditar que tem a oportunidade de “lutar”, de igual para igual, com todos, bastando para isso, apenas escolher qual deve ser a sua luta. “O individuo acredita que a vitória e o fracasso são consequências das suas ações e escolhas”.
Quanto às expectativas de sobrevivência, é evidente que, “arrumar” um trabalho é fundamental. Com isso, o individuo procura os lugares onde as chances de sucesso são maiores, o que leva ao caos nos grandes centros, pois milhões de indivíduos caminham para os mesmos lugares, mas, quando chegam lá, descobrem que as chances são reduzidas. Observe as grandes favelas, nas grandes cidades brasileiras, milhões dos que nelas vivem teriam uma vida igual ou melhor em qualquer pequena cidade brasileira. No entanto, todos acreditam que ainda têm chances, e permanecem nelas.
O nível educacional do individuo brasileiro é mínimo. As escolas, por outro lado, não conseguem ser minimamente boas. Elas são, em sua maioria, de estrutura ruim, que afasta os alunos das salas de aula. Não é prazeroso estudar e muitos desistem e seguem os caminhos citados acima. O excedente vai causar o problema que estamos debatendo neste texto. Mas, sozinho, o baixo nível educacional não seria capaz de gerar a violência.
Como o sistema se comunica com o individuo?
Este talvez seja um dos temas mais emblemáticos e que necessitaria de muito mais tempo e reflexão para ser profundamente abordado. Mas, vou abordar algumas questões sobre a mídia e o que o individuo é para ela.
A mídia está a serviço do capital e o seu objetivo é o lucro, nada de errado até aqui. O problema é como a mídia vem tratando o individuo. A mídia se comunica com a maioria como se estes fossem a minoria, o que ajuda, por um lado, a aquecer o comércio, pois todos querem tudo aquilo que só a minoria pode comprar. Isso ajuda o ego do individuo a buscar sobrevivência no sistema e a querer ser como a minoria. Mas, o baixo nível educacional faz com que o individuo não veja que suas chances são, na realidade, mínimas.
A ilusão de achar que podemos tudo, quando na verdade não podemos, faz com que tenhamos uma massa alienada. No entanto, milhões dos que compõem essa massa, se dão conta das mínimas chances e partem para o caminho da violência, muitos se frustram e vão para as drogas, a fim de ter um momento de alegria intensa, igual àqueles momentos que passam na TV durante todo o dia... A falta de emprego, e o baixo nível educacional, levam, inevitavelmente, esses indivíduos a roubar, a traficar... Faltou dizer que a questão familiar também influencia este momento de ruptura com o sistema. Abaixo, um paragrafo sobre a evolução da família neste contexto.
Evolução, não é o termo mais apropriado para designar a família na atualidade brasileira. Ela vem se modificando constantemente. Antes, existia um pai, uma mãe, irmãos... Hoje, não existe regra e o que temos é um grande numero de pessoas, sem a menor capacidade, gerando vidas. Adolescentes gravidas são um dos maiores problemas para a nossa sociedade. É um problema gerado pelo nível educacional, que está relacionado com a escola, que não é atrativa, e com a forma como sistema se comunica com o individuo. “Lutar por um amor, é tão importante quanto lutar por um lugar no sistema” (assista um capitulo de uma novela e entenderá). Como encontrar um amor é mais fácil do que um lugar no sistema, as adolescentes engravidam, milhões são mães solteiras. Muitas, mais de uma vez... Para entender melhor a família seria necessário analisarmos, além do nível educacional, o êxodo rural e a penetração da mídia, principalmente a TV, nas residências.
Como agem os agentes públicos e seu entendimento sobre o sistema?
Para auxiliar o funcionamento do sistema capitalista, temos o poder público, que arrecada impostos para suprir serviços básicos à toda a população, como: infraestrutura, educação, saúde, segurança...
Acontece que, os agentes públicos, que aplicam os recursos oriundos do capital, não entendem como o sistema funciona e acabam tratando o bem público como algo privado, como uma empresa, que tem por objetivo o lucro. Eles não entendem que, se o serviço público focasse os seus esforços na melhoria da capacidade do individuo em entender o sistema, ou seja, investimento em educação de qualidade, o problema da insegurança pública seria resolvido, não no curto prazo, mas no médio e longo. No curto prazo, a única saída é repressão policial forte, mas, ela se torna inútil quando o médio e longo prazo são esquecidos, o que tende a aumentar cada vez mais a desordem.
Para finalizar, fica evidente que, prender criminoso não diminui a violência, muito menos matar, pois a fabrica de “criminosos” é uma grande linha de montagem que começa com a escola de péssima de qualidade, passa pela forma como o individuo ser ver no sistema, pela comunicação midiática e pela falta de capacidade dos agentes públicos em ver onde está a falha.
Alguns podem dizer que, a família é a base. No entanto, quando não existe família, a escola passa a ser a base para as próximas gerações.
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