Exatamente daqui a uma semana, a sessão da Câmara Federal que decidirá o destino do pedido de autorização para o Supremo Tribunal Federal instaurar processo de investigação contra o presidente Michel Temer (PMDB), por suspeita de corrupção passiva, será um marco decisivo para que o Grupo Sarney comece a delinear sua estratégia para a briga do ano que vem pelo Palácio dos Leões e pelas duas vagas no Senado da República. Se o pedido for rejeitado, como está sendo previsto até aqui, passa a ser muito forte a possibilidade de a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) ser a candidata do Grupo ao Governo do Estado. Se o pedido for aprovado e o presidente for afastado e processado, é quase certo que a ex-governadora ficará longe das urnas, e no caso o Grupo terá de acionar um “plano b”. Otimistas com a sobrevida do presidente da República até aqui, sarneysistas de coturnos baixo e alto garantem que a ex-governadora será candidata “de qualquer maneira”, não dependendo para isso da sobrevivência presidencial. Lembram que na hipótese de Michel temer cair, será substituído pelo residente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um amigão da família Sarney.
De uns tempos para cá, Roseana Sarney começou a se movimentar no campo político com passos mais largos, e com mais visibilidade. Decidiu dividir seu tempo entre São Luís e Brasília. Quando está na terra, preenche a parte maior do seu dia em conversas com aliados políticos, especialmente prefeitos e ex-prefeitos, usando com frequência uma sala que lhe foi preparada nas instalações do Sistema Mirante. Em Brasília, mantém contatos com senadores e deputados federais do seu grupo e cuida de estreitar contatos com próceres da administração federal – nesta semana, por exemplo, esteve com o secretário nacional de Juventude, maranhense Assis Filho, militante do PMDB Jovem. Nessas audiências, atua para manter os links que tem como a cúpula nacional do partido e do Governo Michel Temer. Está, portanto, ativa e alinhavando prováveis alianças, confirmando a afirmação de um pemedebista graúdo segundo a qual ela “é candidatíssima”.
Não é sem razão que o instituto Escutec vem pesquisando as tendências iniciais do eleitorado para governador e senador em municípios estratégicos, como São Luís, Imperatriz e Codó, por exemplo. Não é possível afirmar que o instituto do radialista Fernando Júnior esteja a serviço do Grupo Sarney, mas a julgar pelo uso que está sendo feitos dos números por ele apurados, é lógico supor que o objetivo de tais levantamentos é oferecer à ex-governadoras informações estatísticas que lastreiem as decisões que tomará de agora por diante. Difícil imaginar, por exemplo, que Roseana Sarney esteja em vantagem na preferência do eleitorado de Imperatriz, ainda que o município tenha um pemedebista no comando da Prefeitura. De qualquer modo, esses números informam que, se de fato vier a ser candidata, é um nome a ser levado muito a sério, principalmente pelo governador Flávio Dino (PCdoB), que reúne até aqui todas as credenciais para renovar o mandato.
Roseana Sarney sabe que sua candidatura pode ser a redenção ou a pá de cal sobre o Grupo Sarney. Se entrar na briga para valer, o fará sabendo que sua eleição pode funcionar como uma espécie de upgrade no Grupo, que saiu destroçado das urnas em 2014, mas com a vantagem de que ela, por não ter enfrentado as urnas, saiu politicamente enfraquecida, mas pessoalmente ilesa. Entrará igualmente com a consciência de que sua derrota significará o fim da sua trajetória e, por via de consequência, do seu Grupo, que no caso só terá alguma chance de sobrevivência se o deputado federal Sarney Filho (PV) sair das urnas com o mandato de senador, confirmando assim a previsão política de que o eleitorado dificilmente mandará um Sarney para o Palácio dos Leões e outro para o Senado.
Com a experiência que acumulou como assessora de pai presidente da República, deputada federal e governadora por três mandatos e meio, e que nesse período teve de encarar situações como a Operação Lunos, que lhe estraçalhou a imagem em 2002, que a obrigaram a encarar interrogatórios na Polícia Federal e que continuam a mandar oficiais de Justiça para bater à sua porta, Roseana Sarney dificilmente dará um passo em falso nessa corrida. Daí o fato de o seu projeto de candidatura depender tanto da sobrevivência do presidente Michel Temer.
Ribamar Correia
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