A crise que vem sacudindo a República e ameaça mandar para casa o presidente Michel Temer (PMDB), por renúncia, impeachment ou pelo julgamento, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da chapa Dilma/Temer, sob a acusação de corrupção eleitoral, catapultou o senador maranhense João Alberto de Souza (PMDB) de uma atuação intensa, mas discreta, nos bastidores para o epicentro do terremoto que estremece Brasília. Atual 2º vice-presidente do Senado da República, João Alberto foi escalado para comandar o plenário nesses dias de crise, nas ausências do presidente Eunício Oliveira (PMDB) e do 1º vice-presidente ??????. E não bastasse tarefa ao mesmo tempo tão complicada e delicada, o PMDB ainda o indicou para permanecer como presidente do Conselho de Ética da Casa, cargo para o qual serás eleito pela sexta vez consecutiva. Como “presidente em exercício” da instituição, João Alberto se impôs o desafio de manter o plenário funcionando, realizando sessões e debates. E ao ser confirmado nesta semana presidente do Conselho de Ética, o senador maranhense encontrará sobre a mesa de trabalho um gigantesco abacaxi para descascar: o pedido de cassação do mandato do senador Aécio Neves (PSDB).
Um dos quadros mais experientes da Câmara Alta, por ter no currículo dois mandatos de deputado estadual, quatro de deputado federal, um de vice-governador, um de prefeito de Bacabal, um de governador do Maranhão e dois de Senador, além de uma serie de períodos como secretário de Estado, o senador João Alberto é um dos quadros mais experientes do Senado da República. E pelo fato de ter uma trajetória limpa, sem máculas, e uma prática política em que é sempre fiel ao grupo a que pertence – no caso o Grupo Sarney – e via de regra voltada para assumir e cumprir compromissos com as suas bases eleitorais, especialmente Bacabal e a Região do Médio Mearim, o senador maranhense tem sido usado como uma espécie de “reserva moral” da bancada senatorial do PMDB para representar o partido em situações complicadas como a que está em curso na República. Provavelmente o mais próximo e confiável interlocutor do ex-presidente José Sarney, o senador João Alberto tem atuado também como interlocutor do presidente Michel Temer.
Na noite de quarta-feira, quando estourou a delação-bomba do empresário Joesley Batista, dono da JBS, João Alberto surpreendeu a Coluna ao avaliar como “muito estranha” a delação e que, a julgar pelo que tinha ouvido nos telejornais, sua sensação era a de suspeita forte de que poderia ser um esquema bem urdido para derrubar o presidente Michel Temer. “Estou achando isso tudo muito estranho. Vou aguardar para avaliar melhor isso. Parece uma situação muito grave, mas prefiro aguardar mais informações”, declarou. Nos dias que se seguiram, o senador deu mostras de que suas suspeitas de “armação” estavam ganhando consistência. Tanto que avalizou integralmente discurso de quinta-feira, quando o presidente Michel temer declarou, enfaticamente, que não renunciaria.
Um dos integrantes mais ativos da cúpula nacional do PMDB, o senador João Alberto saiu da movimentação nos bastidores, quando o presidente e o 1º vice-presidente do Senado saíram de cena, entregando-lhe o comando da Casa. E, na manhã de sexta-feira, a bancada do PMDB no Senado decidiu reelegê-lo, pela sexta vez, para a presidência do Conselho de Ética. O propósito inicial era recusar. Primeiro por considerar que já está há muito tempo à frente do Conselho, e entender que deve haver rodízio, e depois por preferir se dedicar ao trabalho político – preparar o PMDB do Maranhão para as eleições do ano que vem – e parlamentar – para ajudar o Governo na votação das reformas. A bancada do PMDB, no entanto, firmou posição e decidiu que ele continuará, mesmo contra a vontade, na presidência do Conselho de Ética. Sem alternativa, aceitou.
Durante o dia de sexta-feira, João comandou a sessão do plenário do senado e conversou com senadores dos ais diferentes partidos, inclusive os de Oposição, para convencê-los de que a Casa não pode parar. E nas várias vezes em que se manifestou sobre a crise, exibiu mais convicção de que o presidente Michel Temer está sendo vítima de uma trama para apeá-lo do cargo. E mesmo andando na contramão do que dizem oposicionistas e os que estão em cima do muro, correndo o risco de ser criticado e até hostilizado por adversários do Governo, João Alberto tem usado sua conhecida coragem e sua proverbial franqueza para declarar que apoia incondicionalmente o presidente da República, porque tem convicção de que ele está sendo acusado injustamente.
PONTO E CONTRAPONTO
PONTO E CONTRAPONTO
Entrevista
João Alberto diz que Michel Temer vai superar crise e que o “rio voltará ao seu leito normal”
No final da manhã de sexta-feira, após presidir a sessão do Senado, o senador João Alberto foi entrevistado pela Rádio Senado. Com a franqueza de sempre, ele defendeu o presidente da República, previu que a crise será logo superada e que o Congresso continuará com a votação das reformas, disse ter certeza de que o presidente não prevaricou na conversa com o dono da JBS, disse acreditar que “o rio voltará ao seu leito normal”, e garantiu que examinará com imparcialidade e responsabilidade o pedido de cassação do senador Aécio Neves (PSDB), acusado de corrupção na delação do empresário. A seguir, a íntegra da entrevista:
Rádio Senado – Diante do episódio envolvendo o presidente da República e os discursos da Oposição, o plenário vai ter condições de manter a pauta e votar?
João Alberto – No primeiro momento, quando houve o encontro do presidente da República com esse empresário, e que, segundo a delação, teria acontecido algo não ético, houve um certo abalo na Nação. Mas depois dos esclarecimentos do presidente da República, me parece que não pairam dúvidas de que não houve nada demais. O presidente da República mostrou que apenas recebeu uma determinada pessoa, e que ele delicadamente não avançou muito na conversa. Assim sendo, a tranquilidade está de volta. Eu tenho a impressão de que, não apenas para o Judiciário, mas também para o Executivo e o Legislativo é uma crise que a República supera. Para isso, depende apenas de uma reunião de líderes, para analisar as matérias que serão votadas.
RS – O senhor, que é um senador experiente, já passou por várias crises, acredita que existem condições para a retomada das votações das reforma Trabalhista e da Presidência?
João Alberto – Eu não tenho dúvida. Havia um acordo tácito de que PMDB, PSDB, PP, PSD, PTB e outros partidos para que nós votássemos essa matéria. Nós achamos que essas reformas propostas corajosamente pelo presidente da República são fundamentais e importantíssimas para o País. Neste momento, ele propor uma reforma que mexe com a vida da Nação, isso é muita coragem do presidente. Eu acredito que essas lideranças vão votar a se reunir e determinar que essas reformas têm de continuar. Todos nós queremos votar as reformas, porque sabemos que elas trarão benefícios para a população.
RS – O presidente da República continua com apoio na Câmara e no Senado?
João Alberto – Pelo que tenho conversado com parlamentares, não tenho a menor dúvida de que o presidente da República continua com apoio tanto na Câmara quanto no Senado, porque nós acreditamos que o presidente quer o melhor para o País. Eu acredito que, passado esse momento conturbado, o rio voltará ao seu leito normal.
RS – O presidente Michel Temer prevaricou na conversa com o empresário?
João Alberto – Quem não conhece o presidente Temer diria que ele deveria ter pedido a saída do empresário (Joesley Batista) ou então ter dado voz de prisão para ele. Mas o presidente Temer que eu conheço é um homem que não quer deixar ninguém com má impressão a seu respeito. Michel temer é incapaz de tramar alguma coisa que venha deixar mal o seu interlocutor. O máximo que ele pode fazer é calar e sorrir não aprovando, mas nenhum ato de indelicadeza. Eu conheço bem o presidente Temer e posso assegurar que é um homem sério e comprometido com a verdade e com o bem do Brasil.
RS – O senhor vai assumir de novo o Conselho de Ética do Senado (pela sexta vez consecutiva). Como lidera com o pedido de cassação do senador Aécio Neves (PSDB)?
João Alberto – Vou analisar o pedido. Ainda não tomei conhecimento do pedido. Vamos ver quais os documentos juntados. Eu sempre tenho declarado que não aceito recorte de jornal nem recorte de revista. Eu tenho de ver documentos, provas de verdade, anexados. Se houver, eu aceitarei. Primeiro nomearei um relator e instalei o processo para que o acusado venha se defender. Isso se houver documentos que realmente me convençam da necessidade de abrir um processo.
Repórter Tempo/ Ribamar Correia
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